Imagine que você está em uma rua, caminhando em direção a uma padaria. Para chegar lá, você precisa atravessar a rua principal, onde passam muitos carros que vêm de três direções diferentes. Eles estão parados, mas o sinal está vermelho para pedestres. Você está esperando o sinal verde aparecer e ele está demorando mais tempo do que de costume; os carros continuam parados e você continua em dúvida.
Após alguns segundos de indecisão, uma pessoa que estava do outro lado da rua, em frente a você, fica impaciente e resolve atravessar mesmo assim. Só então você atravessa, ainda inseguro se pode ou não fazê-lo, andando ligeiramente antes que os carros comecem a acelerar em sua direção. Ok, você atravessou e conseguiu comprar o seu pão. Pode parar de imaginar agora. Agradecemos pela sua participação. 🙂
Veja só, duas cores geraram um conflito relativamente pequeno para você neste nosso cenário imaginário. Agora, pense com a gente: como elas afetariam o dia-a-dia de uma criança?
Cores, comunicação e personalidade
Foto por Juan Encalada no Unsplash
Heinz Schaffer, um psicólogo e professor alemão, conduziu um estudo para entender a influência das cores em crianças com menos de sete meses de idade. Elas ficaram hospitalizadas por uma a duas semanas em ambientes que não tinham variedade de cor. Quando elas saíram de lá e foram levadas para casa, elas ficaram com os olhos fixos, sem expressão facial alguma, e isso acabou durando entre duas horas a dois dias. Há algumas conclusões sobre esse estudo, mas o ponto que nos interessa aqui é o que Vernon Nordby chamou de “estado de privação de sentidos” que ocorre quando não há mudanças no ambiente.
Pode parecer normal associarmos uma cor única e neutra com tranquilidade ou ausência de tensão, mas isso pode não ser tão benéfico se considerarmos que 80% de toda a informação que recebemos vem do ambiente em que estamos e 80% das informações captadas pelos nossos olhos estão relacionadas com as cores [1]. Elas estão inteiramente ligadas com os objetos e espaços que temos à nossa disposição e podem alterar totalmente a interpretação que temos deles. Se o vermelho fosse trocado pelo verde do dia para a noite, ficaríamos confusos e todo o nosso sistema de comunicação no trânsito viraria um caos.
Foto por Jeremy Bezanger no Unsplash
As crianças também são afetadas em grande medida, pois estão iniciando sua formação em um mundo colorido. Elas precisam de guias, mapas, sinalizadores… informações que as permitam diferenciar a madeira do ferro, a grama do cimento, a laranja do limão. Os espaços, por sua vez, informam o que é permitido, alertam para o que é arriscado e estimulam o que pode ser explorado.
Certo, com isso nós podemos entender que precisamos de movimento e de informação que conduza nossa atenção; e que quem nos comunica isso em grande parte são as cores. Isso forma quem nós somos e nos dá direcionamento, pois tudo o que nosso olho vê são cores, e não formas, lembra disso? Bom, fato é que, mesmo sendo essencial viver em um ambiente colorido, não precisamos de muitas cores e o abuso delas pode causar uma superestimulação (e aqui a gente precisa aceitar que esse assunto vai ficar pra um outro blog).
As crianças são atraídas pelas cores e as valorizam mais do que os desenhos. Se um ambiente tiver desenhos, bonecos ou outro tipo de tentativa de ludicidade, mas não tiver variedade de cor, não vai satisfazer a necessidade que a criança tem de sair da monotonia. As cores vão trazer equilíbrio e precisam ser escolhidas para contribuir no desenvolvimento infantil.
Foto por Alyssa Stevenson no Unsplash
Você pode ler muito mais e se aprofundar nesse assunto visitando o estudo que usamos como referência.
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Referência:
[1] TEIXEIRA, Inês Filipa Florêncio. A cor como caracterizadora do espaço: a importância da cor nos jardins-de-infância. Lisboa: Universidades Lusíada, 2012.